Primeiramente, gostaria de dizer que não, não sou o aluno perfeito. Não sou o aluno que eu gostaria de ter. Eu falto, levo tudo nas coxas, converso, uso Twitter e vejo e-mail durante as aulas, presto mais atenção na boniteza do chão da sala do que nas palavras dos professores, não leio textos e, quando leio, leio do que chamo de ‘daquele jeito’ – ou seja, leio a introdução e a conclusão e alguns parágrafos do meio para ter uma ideia geral sobre o tema (que, na maioria das vezes, não me interessa). Esse sou eu como aluno. Contudo, tenho 22 anos e responsabilidade suficiente para saber quando eu posso fazer isso, quando uma matéria é importante pro que eu quero para mim, ou quando o professor e suas avaliações me permitem fazê-lo. Por exemplo, não entrei na faculdade de Letras para estudar Literatura; gosto de ler e só, estudar mais profundamente nunca me interessou (“o que será que o autor quis dizer com aquilo?” Blerg!). Logo, eu fiz a maior parte das matérias relacionadas ao assunto de qualquer jeito. Mais faltava que ia, chegava atrasado, não lia os livros (os resumos da internet eram tão mais interessantes e faziam a obra mais legal que a leitura da mesma – um efeito meio Senhor dos Anéis...). Porém, de vez em quando, sentia que precisava estudar, ler os textos e etc, porque o professor realmente cobraria aquilo. Faltar certas aulas de Literatura era praticamente pedir para ser reprovado. Não porque os professores cobravam presença; não, porque as aulas deles eram importantes pro que cobrariam depois. Aí que começa meu desabafo: cobrança de presença.
Já trabalhei em um lugar que me cobrava marcação de falta dos alunos. Nunca fiz isso. Pelo simples motivo de SEMPRE discordar disso quando se tratam de adultos. Com criança, é complicado; às vezes, a criança falta e o pai não sabe, essas coisas. De criança eu cobro presença. Agora, de adulto? Jamais. Cada um ali era, ou deveria ser, responsável o suficiente para saber se podia faltar ou não, se tinha condições de acompanhar faltando e etc. Tinha aluno que só aparecia em dia de prova. Se ele tirasse o mínimo para passar, passaria, se não, como qualquer outro aluno, seria reprovado, não pelas faltas, mas pela nota. Se o aluno tinha nota para passar, eu passava ele, independente de quantas vezes ele tivesse comparecido à aula. Se um aluno tira nota boa mesmo faltando mais do que ‘deveria’, das três uma: ou ele já sabia aquilo e, bom, pra que prender o cara ali?; ou ele é muito bom e os estudos em casa fizeram efeito e, novamente, pra que prender ele ali?; ou ele confirma que o que cobro no fim do período é tão vazio que o que ensino é irrelevante. Pra mim, quem cobra presença acredita na última opção. Gosto de pensar que os alunos podem aprender mais sozinhos do que comigo – prefiro um aluno que estude em casa depois de faltar muito e tire uma nota boa do que um aluno que vai todo dia e não absorve nada do que digo. Ainda, o que é mais respeitável: alguém faltar e tirar uma boa nota ou alguém ir de má vontade para uma aula que nada lhe acrescenta apenas por causa da megalomania dos professores universitários? Pois é.
Não reclamo disso no Bacharelado – por pior que tenha sido, poucos professores cobravam presença religiosa às aulas –, refiro-me, na reclamação, à estupendamente hipócrita Faculdade de Educação. A mesma hipocrisia com a qual me comparei quando cheguei na Letras sobre o seguimento ou não de regras gramaticais e a inexistência do chamado ‘erro’ eu encontro agora na Licenciatura. Não que eu esperasse diferente, claro. Entretanto, é revoltante ver os professores, que falam tão bem das novas políticas de ensino, novos métodos e maneiras de dar aula, quase demonizando a tradição escolar na qual fui educado, utilizando métodos escassos para nos ensinar, ignorando, por exemplo, a disposição de mesas e cadeiras que eles sugerem para nossas próprias aulas. Como um professor que diz que o que importa ao fim não são avaliações e provas, mas sim o que o aluno aprendeu ao longo do processo tem coragem de cobrar presença? Eu não posso ter aprendido sozinho, lido em casa, estudado de outra forma que não por ele? Ele é tão magnânimo e supremo assim que todo conhecimento que eu venha a adquirir sobre o assunto terá partido única e exclusivamente dele?
Todo esse desabafo vem do fato de eu precisar não ir mais às aulas da Licenciatura por conta de um estágio – na área em que eu sempre sonhei trabalhar e que era minha meta original quando comecei a fazer Letras. Cheguei hoje para uma professora – de Didática, olha que coisa – que segue os módulos de aula que citei acima e expliquei tudo para ela; me ofereci a fazer trabalhos extras, quantos fossem – mesmo já tendo nota para passar –, porque não queria perder o semestre (aliás, não aturei 3 meses de aula com ela à toa) e, porque, a bem de verdade, acho importante ter uma opção ao simples Bacharelado na minha vida caso nada dê certo. A resposta dela para todos os meus pedidos e opções: “O curso é presencial”. Mais uma vez, a Licenciatura se torna um fardo na minha vida e não me restará outra opção senão refazer a matéria semestre que vem e rezar para que pelos menos os outros dois professores com os quais tenho aula entendam minha posição.